quinta-feira, 21 de outubro de 2021

sessão 2

Hoje aconteceu a minha segunda sessão com a psicóloga, e por ser estudante de psicologia e ouvir tanto sobre isso eu estava com uma expectativa bem alta em relação a terapia. Embora tenha sido um pouco diferente do que eu esperava, eu gostei. Hoje eu consegui perceber de um jeito bem claro como eu me afasto das pessoas por medo de me afastar delas, basicamente. E pelo que eu entendi isso começou a muito tempo, desde quando eu resolvi entrar na faculdade rompendo um padrão familiar e ser diferente de todo mundo da minha família, então nesse momento eu passei a me olhar como diferente, e por medo de não ser amada por não ter identificação, eu me afastei. E isso acontece até hoje. Sair da casa dos meus pais é o maior exemplo que posso dar, porque quando precisei fazer essa transição, eu parei de estar 100% presente nos acontecimentos da minha antiga casa, e isso me fez sentir medo de não ser amada ou de ser esquecida, e com esse medo eu sofro porque quero pertencer onde não me cabe mais (pegando os problemas deles, e querendo saber de cada passo dos meus pais, ou participar de cada reunião e cada decisão deles), então quando sofro pra perceber isso eu quero me retirar ou me afastar completamente, pra evitar esse sofrimento, a acabo sofrendo mais ainda. É tipo um ciclo que se repete muito e em todas as áreas da minha vida. As amizades também são um bom exemplo porque eu já sofri muito por achar que a amizade com algumas pessoas tinha acabado só porque precisávamos nos afastar um pouco. 

Agora eu preciso trabalhar isso em mim, e deixar claro que não é porque eu não consigo ser onipresente na vida de alguém, que significa que não existe mais vínculos entre nós. Eu posso ficar chateada ou decepcionada, e não concordar com as ações das outras pessoas, mas isso não significa que eu precise cortar todos os vínculos afetivos entre nós. Eu acho que essa pode ser uma tarefa um pouco difícil, e talvez eu nem saiba por onde começar na prática. Talvez tentar me reaproximar das amizade que eu me afastei por não ser tão presente, ou talvez expressando para os meus familiares que mesmo não estando presente eu ainda quero ter o afeto da família.... isso me deixa um pouco confusa.

Embora eu não consiga saber exatamente como fazer isso, eu me sinto aliviada por conseguir observar isso, e estar procurando uma forma de mudar.

sábado, 9 de outubro de 2021

My baby:

 Eu sei que no começo ficamos assustados, e que em alguns momentos demonstramos insatisfação com a sua chegada... Mas eu juro que você é o que nós mais queremos na vida. 

Eu sei que não cuidamos muito bem de você quando decidimos brigar, e quando eu decidi fazer esforço físico, mas eu juro que se eu pudesse voltar atrás eu voltaria e tentaria me esforçar 10 vezes mais só pra não ter o sentimento de que você partiu.

Eu sei que talvez não fosse a hora certa, e que você veio só para nos transmitir alguma mensagem, mas eu juro que ainda não consegui entender muito bem qual era a mensagem, e que mesmo que não fosse pra você estar aqui, eu sempre vou sentir sua falta. 

Eu sei que o tempo entre nós foi muito curto, mas eu juro que o que nós sentimos por você foi gigante e vai ser eterno. 

Em apenas 4 dias você mudou muito dentro de nós. 

diário:

 Hoje eu não acordei me sentindo muito feliz, e eu não sei muito bem o porque. 

Essa semana não foi tão ruim pra mim. Eu fiz muitas coisas que me deixaram feliz. Eu consegui cumprir a minha agenda diária, eu cuidei do meu corpo, das minhas unhas e do meu cabelo. Eu produzi um ótimo relatório de estagio, minha ida a campo no estágio foi melhor do que eu esperava que fosse, eu cozinhei ótimas refeições, eu achei minha aliança que eu havia perdido há um tempo, eu comprei uma prateleira e uma mesinha para iniciar a montagem do escritório, eu tive uma noite com bastante prazer, eu fiz exercícios físicos a semana toda, eu fiz a minha primeira sessão de terapia... Então eu não deveria me sentir assim, certo? 

Errado.

Hoje eu acordei com lembranças e sentimentos ruins. Como por exemplo o sentimento de solidão. As vezes parece que eu conheço tantas pessoas mas não posso chamar ninguém de amigo. Eu sinto muita falta de ter uma amizade presente e frequente. Alguém para conversar sobre coisas sérias e aleatórias, alguém que venha até mim como eu sempre vou atrás das pessoas que eu acho que são minhas amigas. Alguém pra quem estar em minha companhia não seja algo forçado e nem difícil. Essa é uma das coisas que eu mais sinto falta. 

 Esse sentimento não vem só através da falta de amizades, mas também vem através da falta que as vezes eu sinto da minha primeira família. Depois que fiquei chateada com o assunto da viagem ninguém mais veio me procurar, e isso pra mim significa que sempre sou eu que os procuro. 

E eu também estou sentindo isso com a minha família de hoje. Essa semana eu senti uma grande diferença em algumas atitudes minha e dele. Lembro que as vezes que fiz café da manhã eu acordei com um beijo no rosto, sentada do lado dele e falando baixinho. E quando ele dorme no sofá eu acordo ele do mesmo jeito para ir pra cama. E ele me acorda me cutucando, e as vezes só me chamando sem nem chegar perto. As vezes parece que as coisas que mais divertem ele são o celular e os amigos. E eu juro por tudo o que é mais sagrado que eu não estou com ciúmes de nada. Eu só não tenho sentido reciprocidade em algumas atitudes. É muito difícil pra mim sentir que a coisa mais importante que eu possa oferecer seja o sexo, e é isso o que eu tenho sentido ultimamente. Toda hora, o tempo todo tem alguma caricia voltada pra vontade sexual, e eu não me sinto bem com isso, porque eu não quero ser só isso! E ele não entende quando eu tento dizer isso, porque se eu falo sobre isso ele se afasta e passa a nem me abraçar mais, parece que ele fala "se não tem sexo, então não vai ter nada"... e isso não me ajuda nenhum um pouco a lidar com aquela questão de sentir que eu preciso fazer isso por me sentir pressionada. Alias, ele não entende muitas das coisas que eu falo ou peço. Sempre parece que a gente ta disputando alguma coisa, e quando eu quero ensinar algo que eu sei ele sempre parece não dar crédito pras minhas palavras. As vezes eu não me sinto uma parceira, e sim uma pessoa inferior. Parece que ele mal consegue se divertir comigo. Desde quando passamos pela gravidez interrompida eu tenho tido muitos dias ruins e muitos sentimentos tristes, e o sexo tem sido algo muito difícil pra mim, eu tenho sentido mais dor do que prazer, e mais pressão do que vontade. E isso não é culpa dele, eu só queria um pouco mais de compreensão. Mas não aquela compreensão onde a pessoa diz que entende mas fica de cara fechada, e sim aquela compreensão onde a pessoa mostra que entende e que isso não vai mudar nada entre nós dois. 

Pra falar a verdade, em dias como esse eu me sinto um peso morto na vida de todo mundo. Eu nunca fui 100% segura, mas depois da gravidez parece que todos os meus defeitos e dificuldades se multiplicaram. Uma ou duas vezes eu senti uma coisa que me deixa apavorada e que eu não quero sentir nunca mais. Eu me vi pensando em formas de tentar contra a minha própria vida. Isso me deixa muito preocupada, porque eu sei que eu nunca teria coragem de fazer uma coisa dessas, mas os meus pensamentos não param. E eu sei que tentar suicidar e pensar "eu sou um peso pra todo mundo/eu não faço nada direito" é praticamente a mesma coisa, só que em instancias diferentes.

Colocar tudo isso pra fora é muito aliviante pra mim, embora não me mostre o que fazer pra que eu me sinta melhor. Eu juro que eu dava tudo o que eu tenho pra ter aquela chavinha mágica que faz tudo melhorar de uma hora pra outra. 

E eu sei que eu não vou desistir!

Hoje eu posso ter acordado mal, mas depois de algumas horas pode ser que eu volte a ficar bem. Pode ser que de 5 dias, apenas 2 eu passe por isso... e tá tudo bem, porque eu sei o quanto eu luto contra todos esses sentimentos. Eu sei o quanto a vida é linda, e eu sei todos os motivos que eu tenho pra poder me sentir feliz e orgulhosa de mim mesmo. E eu sei que eu tenho pessoas ao meu redor que fariam de tudo pra me ver bem e me ver feliz, e eu sou extremamente grata por essas pessoas. 

E pra encerrar um momento difícil eu sempre penso nisso: 

"Esforça-te e tem bom ânimo (...)"

Os 4 dias mais difíceis de 2021

 Dia 2 de Setembro (Quinta-Feira): 

Já faziam duas semanas que eu já estava sentindo dor no pé da barriga, e uma dor ENORME nos seios. Eu sabia que poderiam ser sintomas de TPM, mas a diferença é que se fossem, não teria durado tanto tempo. Então como sempre comprei meu teste. Eu já tinha feito um teste na semana anterior, mas ainda estava muito longe e eu não confiei muito. Então dessa vez fiz no tempo certo, aquele teste de até seis dias antes da menstruação. Era quinta de manhã e a primeira coisa que eu fiz depois de acordar foi ir pro banheiro e fazer aquele teste. Lembro que assim que o líquido subiu, apareceu um risquinho de positivo, beeeeem fraquinho. Imaginei que o risquinho ficou fraco porque ainda faltavam alguns dias para o dia da menstruação, que seria na terça. Então eu comecei a chorar, sem entender muito bem o que eu estava sentindo. Voltei para a cama e a primeira coisa que eu disse para o Diones foi: "Parabéns, papai." E depois disse eu chorei muito. É difícil de lembrar de tudo o que eu senti nesse dia, mas me lembro que senti muito medo e muita preocupação. Não sabia o que fazer, não sabia em qual médico eu deveria ir, não sabia nada... só sabia que teríamos um bebê e isso mudaria tudo na nossa vida. Decidimos não contar pra ninguém até ter certeza, e contaríamos na segunda-feira, em um churrasco em família. Então eu consegui passar o dia todo com a minha família sem contar pra ninguém. A Júlia acabou descobrindo pelo meu histórico de pesquisa que estava no not, então eu acabei confessando pra ela e ela prometeu que ia guardar segredo até o dia da surpresa. No mesmo dia a tarde, eu consegui ir até o laboratório fazer o exame de sangue. Como eu já imaginava dessa vez, o resultado foi positivo. Então a partir daí começamos a nos preocupar com o plano de saúde, com a organização das contas, com os médicos, e com tudo o que teríamos que mudar daqui pra frente. E assim foi o dia da nossa descoberta. 


Dia 3 de Setembro (Sexta-Feira): 

Me lembro que sexta foi um dia difícil e que eu me senti paralisada. É claro que não estávamos tristes, mas estávamos muito preocupados. O Diones beijava minha barriga de hora em hora, e fazia muito carinho. Estávamos felizes porque nós sempre acreditamos que tudo nos acontece na hora e no momento certo. Então se aconteceu, precisávamos confiar que esse era o momento e estávamos trabalhando pra isso. Em dia nossa cabeça consegue mudar tantos pensamentos, né?! Na Sexta já estávamos agindo como pais, e cuidando da minha alimentação, e fazendo muitos planos e fantasiando muitos desejos dessa nova jornada que iriamos enfrentar. Transitando sempre entre a felicidade e o medo, hora eu me pagava acariciando minha barriga como se ali estivesse meu bem mais precioso, e hora eu estava deitada me sentindo triste com uma enorme vontade de chorar. É importante contar que neste mesmo dia fui ajudar minha mãe a fazer uma faxina, e como eu ainda estava sentindo bastante dor, fiquei com muito medo, mas não achei que isso poderia me prejudicar e nem ao bebê.

E assim passou nosso segundo dia. 


Dia 4 de Setembro (Sábado): 

Neste dia fui até a casa da minha amiga visita-la e contar a novidade. Foi aliviante falar com alguém. Eu me senti muito tranquila e mais empolgada. Saí de lá com varias dicas e conselhos e já sabendo qual médico deveria procurar e tudo o que eu poderia ou não fazer. Depois, passei o dia fazendo lembrancinhas para entregar no dia do churrasco, anunciando a gravidez para nossas famílias. Em meio a toda empolgação ainda estávamos organizando as questões do plano e de outros médicos, até conseguimos chegar em um consenso. Estava tudo dando certo. A noite fomos ao aniversario de um amigo do Diones. Eu já estava levando muito a sério a questão da alimentação então só bebi suco. A noite foi bem agradável, conversamos e rimos bastante. No final da noite quando estávamos vindo embora acabamos brigando por motivos muito bobos. Chegando em casa eu só queria dormir pra não brigar mais ainda e acabar passando nervoso demais e correr o risco de acontecer alguma coisa mais séria. Mas o Diones não consegue dormir sem que a gente esteja em paz um com o outro. Então tentando acalmar as coisas acabamos promovendo um nervoso um pouco maior. E acabamos mesmo assim, dormindo sem estar em paz um com o outro. 


Dia 5 de Setembro (Domingo):

No dia do aniversário da Júlia decidimos fazer uma janta para comemorar, e eu decidi entregar a lembrancinha e contar a novidade depois de cantar os parabéns. No começo do dia já acordei meio nervosa com a briga da noite anterior, e muito preocupada. Tentamos conversar e resolver mas foi sem sucesso. O Diones saiu para fazer as entregas e eu fiquei sozinha. Tive uma pequena crise de choro, que embora pequena ainda foi bem forte, e depois tentei me distrair para não prejudicar o bebê com tudo o que eu estava sentindo, então decidi cortar as unhas do pé. Quando cortava a unha, senti algo quente descendo para a minha calcinha, então coloquei a mão e quando tirei ela estava cheio de sangue. Um sangue bem claro e vivi. Nesse momento eu entrei em choque. Acho que o choque foi tanto, que meu nariz também começou a sangrar (!?)... Então mandei mensagem para o Diones, continuei chorando muito, me lavei e coloquei absorvente. Mesmo assim não parei de sangrar. Ficamos muito preocupados, o Diones com a mania dele fez várias pesquisas no google e tentou me tranquilizar; eu mandei mensagem pra Mariana e ela também me tranquilizou um pouco, mas eu ainda não estava me sentindo completamente segura. Chegou o aniversario e meus pais chegaram aqui em casa já com um clima ruim porque teriam brigado. Comemos, cantamos parabéns e eu entrei as lembrancinhas, todo mundo me abraçou e parabenizou, e no fim da noite o assunto foi só esse. Quando contei do sangramento todos ficaram muito preocupados, de verdade. Meu pai até pediu para que fizéssemos uma oração antes de eles irem embora. Eu fui dormir com bastante medo e preocupação.


Dia 6 de Setembro (Segunda-Feira):

Na segunda de manhã o Diones saiu para trabalhar. Eu voltei a dormir. Acordei com uma vídeo chamada dos meus pais preocupados com o sangramento e concordei em ir até o Pronto Atendimento com eles. Chegando no pronto atendimento meu sangue foi coletado, e eu tomei soro e medicação para a dor na barriga que havia aumentando desde o dia anterior. Quando chegou o resultado do exame de sangue a médica me chamou e deu a noticia: 

"O resultado do exame de sangue deu negativo."

Nessa hora eu estava sentada na cadeira de frente para a médica e minha mãe em pé ao meu lado. E meu mundo desabou. Eu me senti triste, com medo, e culpada. E ali eu chorei muito, foi um silencio eterno onde só dava pra ouvir o meu soluço, e minha mãe dizendo pra eu ficar calma. E isso durou a manhã toda. Depois veio o momento de compartilhar esse sentimento entre mim e o Diones, e isso foi outro momento triste. Todos os dias dali pra frente foram tristes de alguma forma. 



Alguns dias depois, em uma visita a minha médica particular, ela confirmou o que meu coração nunca havia deixado de sentir. Eu estava grávida de poucas semanas sim, e eu perdi. Mas embora isso tenha acontecido, ela me tranquilizou realizando alguns exames e informando que meu corpo está saudável e o que aconteceu foi algo inesperado, que não foi culpa do meu corpo.